SÃO TOMÉ, A PÉ NA CIDADE
São Tomé pode ser muita coisa diferente para quem visita. Tudo depende do espírito com que abordamos este arquipélago, um mar verde no meio do oceano de cambiantes azuis.
Para mim a ilha de São Tomé foi sempre divagação. Inicia-se a viagem com um determinado rumo, mas de repente alguma coisa nos capta a atenção e aí vamos nós. É viver leve-leve, como aqui se diz, mas com a intensidade que uma pequena ilha permite condensar. Por isso, o meu conselho é que não faça grandes planos, mas deixe-se levar pela ocasião. E, sobretudo, dedique uma boa parte do seu tempo à população. Visitar as comunidades das roças, dos portos pesqueiros ou as que simplesmente bordejam as estradas e falar com as pessoas será o maior tesouro que pode levar desta ilha. Escutar o que eles têm para ensinar, andar de mão dada com as crianças, aprender a lavar uma panela com a folha sabão ou a apanhar a pedra certa para os pisos de malagueta, sal e ervas ou simplesmente para lixar a pele.
Os próximos posts são dedicados a quem gostaria de visitar São Tomé saindo um pouco dos habituais circuitos turísticos. Apesar de termos, eu e o Mário Cerdeira, aqui vindo em trabalho de pesquisa e fotografia para o nosso próximo livro sobre cacau, aproveitámos para conhecer melhor a gastronomia, o povo e a identidade santomense.
Clima
À semelhança da maior parte de África, há duas estações, a das chuvas (entre Setembro e Junho) e a seca, a gravana (entre Junho e Setembro). Pode achar que 27ºC não é muito calor, mas os 80% de humidade vão mudar a sua opinião. Traga roupa leve e solta, tipo djellaba marroquina.
Alojamento
A piscina do hotel, com um fantastico pontão para os cocktails ao pôr-do-sol
Depois de gravarmos um vídeoa sobre frutas com a colaboração do hotel. O meu agradecimento pelo bom trabalho ao director José Castilho e ao Dr. Pedro Martins.
Como não queríamos ficar longe da cidade, onde eu tinha de passar alguns dias em consultas no Arquivo Histórico de São Tomé, a melhor opção para alojamento foi o Pestana São Tomé. Situado numa ponta da cidade, suficientemente perto para lá ir a pé, mas suficientemente afastado para nos podermos sentir despaisados, o hotel oferece quartos confortáveis e zonas sociais muito agradáveis. A piscina infinita coloca-nos no meio do Atlântico, careless. Tudo isto sem o ambiente despersonalizado do resort e em pequena dimensão. O meu obrigada a todo o pessoal, sobretudo da recepção e do restaurante, nomeadamente ao director, José Castilho, e ao chef de cozinha Ismael Olivares pela paciência que teve para todas as minhas perguntas.
Dinheiro
Dá jeito trocar algum dinheiro, mas não é preciso muito, porque em todo o lado recebem euros. Não se esqueça é de trazer muitas notas pequenas. A moeda local é a dobra (1 euro – 24500 dobras). Se trocar cem euros vai ficar milionário em dobras, com a carteira a abarrotar de notas. Um táxi para a cidade custa cerca de 50 000 dobras. Não se deixe impressionar pelos zeros, são apenas 2 euros.
OTuc-tuc
Transportes
O tuc-tuc é um óptimo transporte para a cidade. É prático para entrar e sair, sem pôr os pés nas sempre presentes lamas da época das chuvas. Os táxis que andam pelas ruas são os mais velhos, sem nenhumas condições. Os que os hotéis proporcionam são bem mais compostos e os preços para o turista não variam muito. Para os passeios na ilha, sempre jeeps, sempre tracção às 4 rodas, nem hesite. Nós alugámos um dos jeeps mais baratos e, à parte, um motorista que também é guia, o Jô, que recomendamos vivamente. Grande parte do que podemos experienciar ficou a dever-se a ele. Aqui fica a minha gratidão e o número de telefone dele (+2399937220).
Na entrada do Museu Nacional foram colocadas as estátuas de navegadores portugueses, nomeadamente Pero Escobar, que estavam espalhadas pela cidade.
Casa da cidade
O prédio
Muitos anos depois
Prédio com o omnipresente canis famelicus
Dia 1 – Visita à cidade
O primeiro dia é ideal para sair do hotel a pé, pequena mochila às costas, e ir tranquilamente até à cidade. Aproveite para falar com os vendedores de bolos secos que estão sempre a passar, levando-os à cabeça, em caixas de plástico, ou em pequenos carrinhos de madeira.
Embaixada de Portugal
Irá passar do seu lado esquerdo no Ministério dos Negócios Estrangeiros e na Embaixada de Portugal, duas das mais bonitas casas da capital. Depois espreite o Palácio Presidencial, antigo Palácio do Governo de Portugal, e a Sé. Em seguida, tome as ruas interiores onde estava concentrado o comércio. Aqui, ainda encontra algumas lojas. Entre numa alfaiataria, onde pode mandar fazer um vestido ou uma camisa de homem com os tecidos de lindíssimos padrões importados do continente. Porém, se estiver mesmo interessado, não deixe de visitar uma cooperativa apoiada pelos brasileiros, a Ué Théla, mesmo ao lado do Arquivo Histórico De São Tomé. Comprei lá todas as prendinhas para trazer para a família e ainda um tecido africano bordado, lindo como nunca tinha visto.
Comprando pau de pimenta e ossam para o calulu
Do mar: andala e peixe agulha
E peixinho: serve quase como tempero para os guisados
Ao lado da rainha do mercado
Da terra: Carne de porco fresca e salgada
A visitar também, para os mais curiosos, o mercado velho. É uma colmeia de vendedores de produtos da terra e um pouco de artesanato ligado à comida (tábuas, pratos e colheres em madeira, mandolinas para cortar chips) e até curiosos grelhadores a carvão. O peixe vende-se fresco, bem arrumadinho em grandes tigelas de plástico. Costuma haver sempre andala, cortado em pedaços por ser um peixe grande, atuns pequenos, peixe agulha e peixe voador, e uma chusma de peixitos para fritar. Mesmo os que estão fresquíssimos têm auréolas de moscas e estão envolvidos pelo cheiro intenso do peixe seco e por outros menos agradáveis aos quais nos vamos habituando. Num dos extremos da praça, vende-se carne de porco fresca, em cortes irreconhecíveis, e salgada, assim como frango congelado que constantemente alguém mutila com um facão.
A parte dos frescos é a mais interessante, sobretudo pela quantidade e variedade das frutas e dos temperos. Mais do que os legumes, são as frutas que servem de acompanhamento à proteína. Variedades de banana são algumas dez. Há as para cozer , das quais se destaca a banana-pão, e as de comer. Destas últimas, a ouro, com a sua casca cor de fogo, é a mais rara e doce. A prata é a mais vulgar e dela se fazem também chips. Eu adorei a banana-maçã, uma mini de textura menos mole e com sabor mais ácido, mas há também a gramichel (Gros Michel). E muitas outras. Atenção às fotografias no mercado, porque os vendedores querem por vezes cobrar e, em geral, não gostam de aparecer nelas. Vá preparado de roupa e psicologicamente porque lá dentro faz um calor dos diabos e a taxa de ocupação deve ser de 6 pessoas por metro quadrado.
Para os Portugueses é de rigueur visitar o Museu Nacional, alojado numa antiga fortaleza. Apesar do estado de degradação geral, é de apreciar o esforço que o país fez para preservar a história da época colonial. Logo na entrada, reuniram as mega estátuas dos navegadores que descobriram as ilhas. Depois, há uma parte dedicada à arte sacra, constituída em geral pelas imagens retiradas das roças e todas elas a gritar por restauro. O mais interessante é a reconstituição da casa de jantar da roça Rio do Ouro, actual Agostinho Neto. Com tudo por junto, gastam-se 20 minutos e 50000 dobras de entrada.
Se ainda tiver tempo e disposição, entre na lindíssima igreja de Nossa Senhora da Conceição, notável pelos azuis que a decoram. O altar mor é lindíssimo de simplicidade e cor.
O altar mor da igreja de Nossa Senhora da Conceição
e a Senhora da Conceição
Em seguida, regresse ao hotel, seque no ar condicionado e mergulhe na piscina.
O jantar do primeiro dia, pode fazê-lo no Pestana, que tem um óptimo buffet. Jante cedo, durma cedo e acorde cedo. Em África é assim e os pequenos-almoços do hotel já costumam estar abertos às sete horas. Amanhã é outro dia.