SOBRAS DAS FESTAS
O que sobra é que nos sacia: esta sábia frase do povo traduz a nossa necessidade de ter comida em sobra para podermos verdadeiramente sentir-nos «ricos», longe de fomes atávicas que possam ter ocorrido com os nossos ancestrais. E quem sabe será essa a razão porque muitos portugueses não se sentem cativados por menus de degustação em que se sucedem pequenas doses em que nada sobra, mas isso é outra conversa.
O que hoje vem ao assunto são as sobras das Festas de Natal, Ano Novo e Reis. Cá para mim, as sobras são melhores do que alguns dos pratos típicos dessas quadras. O bacalhau cozido com couves da ceia é óptimo, mas a roupa-velha que com ele se faz para o almoço do dia 25 é bem melhor. O segredo é cortar as batatas e as couves em pedaços não muito pequenos e o bacalhau em boas lascas. Aquecer o melhor azeite numa frigideira com alguns dentes de alho, sem exagerar no alho, no azeite sim. Deitar o bacalhau, as batatas e as couves na frigideira e deixar aquecer bem, quase sem mexer.
O bolo-rei só gosto dele cortado em fatias medias e torrado no grelhador do forno, virando-as a meio, para tostarem dos dois lados.
As rabanadas melhoram com a idade, amolecendo ainda mais na calda que se forma com o açúcar envolvente.
Para terminar, o panettone, hoje tão presente na nossa mesa de Natal. Nunca tive a felicidade de comer um artesanal ou caseiro, e não aprecio os industrais. Mas posso dizer-vos que esta receita do Augusto Gemelli os transforma nuns maravilhosos sformati (A Cozinha Italiana de Augusto Gemelli, Esfera dos Livros, Lisboa, 2007).
Porque o que sobra é o que nos sacia.